Pitadas de Lua

Sentimentos que vêm à tona o tempo todo, condensando-se docemente e caindo aqui, devagarinho, igual orvalho de palavras molhando cada nova manhã... escritos de Jocimar Bueno.

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Local: BH, MG, Brazil

8.28.2005

DESCAMPADO









Procuro um descampado mental
Para meus pensamentos de multidão,
Ares com respiração de borboleta,
Suor de emoção distante
E ante os olhos a invasão do verde,
Companhia sutil de animais;
Batráquios, aves e insetos mimosos,
Companhia de uma moça íntima,
Antiga amante do presente bom.
Procuro um descampado mental
Para preencher de gostos meus,
De companhia agradavelmente minhas,
Mas o que mentalizo mesmo, é o silêncio,
Quando assim for preciso para sonhar...,
Quebrado somente pela vontade
De assobiar um Rock Rural:
“Eu quero uma casa no campo...”
Quero esperar do hoje o seu término
E do amanhã seu começo em aurora
Ter por ocupação maior: viver
Viver vendo e sentindo que respiro
Saber-me envelhecendo, consciente
Consciente de que estou consciente.
Ter por ocupação central a razão rosa,
A isenção de compromissos monetários,
Devida paciência para saber aceitar a espera
Do jovem fruto amadurecer para o nosso alimentar.
Vinícius (o poeta) sabia bem, entendia:
“Ser feliz é questão de paciência”
Acrescento:
“Paciência para minha falta de paciência”
Procuro um descampado mental,
Rede entre dois acolhedores abacateiros,
Abandonar meu corpo à sorte branda,
Minha paixão ao azar feliz,
Tudo ao vento e suas ondas macias,
Cerrar meus olhos para as angústias
E abri-los em desmazelo total
Sustar as freadas da paixão; ir...
Rubricar seu nome em minha gasta memória
Acelerar as patas do sorriso
Para que a rosa ria despudorada,
E se despetale nua em oferta,
Ao sabor quente do meu hálito fecundador,
Para que eu cavalgue enfim,
Sonhador, sonolento, nas crinas do anoitecer.

8.25.2005

LOQUAZ














De mim ando atrás
Meu eu não sabe o que faz
Pensa muito, assaz.
Mas uma certeza traz
Não quer encontrar a paz
Vive à procura, mas.

8.13.2005

EMPLUMANDO










Anoitecer são pássaros que voltam aos beirais
Tardes são manhãs disfarçadas em tardes
Pássaros são manhãs que voam

Anoiteça
Entardeça
Amanheça

Aurorando
Emplumando
Em mim

PARADINHA













Estou vivendo muito rápido, diferente.
Por vezes, um pouco, me canso.
Vou dar uma paradinha lá na frente:
Só para ver se, enfim, me alcanço.

FOGO DE PALHA



Paixão é só fogo de palha
Mas quando correspondida
Que enorme estoque de palha!
Que linda que fica a vida!

8.12.2005

MENTIRA









C h o v e...
Neste instante...
o pingo que cai e atua,
bem na testa dela,
é pouco diante
da pitada de lua
que o meu sentir vela!
Que bom se eu encontrasse meu amor
Em uma estrela..., multicor.
Seria um amor brilhante,
Mas, seria um amor tão distante!
Prefiro a alma na eternidade
Que ao corpo na saudade...
Mentira.
Prefiro não!
Prefiro o corpo na eternidade...,
Que viva a alma na saudade!

ESTÓRIA



A flor pediu à borboleta bela,
encarecidamente,
que ficasse com ela...

A borboleta disse não e pediu também,
suplicantemente, para a flor que
deixasse a haste e voasse além...

A flor ficou,
a borboleta voou.

Veio o tempo do destino,
do desengano,
do desatino,
do desagrado,
do desagravo,
do no entanto,
do desencontro,
do desencanto.

O destino do tempo,
do forte vento...

Estupidamente,
Sem emoção,
rapidamente,
jogou
a borboleta ao chão,
arrancada da haste a flor voou.

VIVO O QUANDO




Nada de drogas artificiais,
Ligo-me nas naturais...
Com carinho, sim..., fico bêbado.
Na paixão...,
Tremendamente alucinado!
Nos sonhos infinitos sou viajado,
Nos abraços desapressados...
Um desvairado molambo,
Nos beijos de perdição
(ou de salvação)
Vivo o quando.

À FLOR DA PÉTALA



Porque hoje ela me deixou em dúvida,
Se ainda sou, ou não, necessário na vida dela,
Fiquei tão sensível..., fiquei em demasia.
Uma asa de borboleta arranha a minha pele,
Uma penugem de colibri abre minha pele em sangue,
Um alfinete caindo ao chão é um edifício implodindo,
Uma nesga de luz fere a menina dos meus olhos,
Se alguém me disser um não, bem forte, choro.
Não estou suportando mais a vida me negar carinho...
Não estou suportando mais esperar por afeto...
Um olhar de interesse me deixa sem jeito,
Uma casquinha de biju corta meus lábios,
(Fracos por ausência dos beijos dela),
Um abraço de ternura me desaba,
Um agasalho de flanela - quentinho - era carinho,
Agora, com esta sensibilidade, é calor que queima.

Minha sensibilidade está à flor da pétala de minha pele.

DIFÍCIL



Arranjo com facilidade as palavras,
consigo descrever,
com certa fidelidade,
meus sentimentos.

Difícil é conviver
com meus sonhos nem começados,
com minhas certezas desfeitas,
com meus prazeres abandonados,
com as frustrações não aceitas,
com as lembranças que tirei
do fundo dos seus olhos
-- por onde naveguei e mergulhei
em pesca submarina --
que sublimam suas lágrimas
de onde nunca mais retornei
e não eliminam o que amei.

Arranjo com facilidade as palavras,
O difícil tem sido lidar com os meus silêncios.

8.10.2005

ESTAÇÕES DO ANO



Meu coração faz muita confusão...,
Destarte, saber que faz parte
De Deus, da Sua linda Criação...

Meu peito, feito um alucinado,
Não destingue a primavera do outono,
O inverno do verão acabado...

Dentro do doído e solitário coração
Venta um fino frio, quando não abraça
Outro abraço, mesmo pleno verão...

Já quando se apaixona, e sai da lona,
Pode estar um rigoroso inverno,
Sente calor, como no inferno...

Quando se sente sem dono...,
Pode ser primavera, que já era,
Sofre folhas secas do outono...

Meu coração faz muita confusão...,
Pouco sabe de estações, mas como aguarda,
E guarda, sempre, a esperança da ilusão!

ARREPIO POÉTICO



É o arrepio novamente
Cotucando-me o corpo
O que não fui; estou sentindo
O que fui; estou esquecendo

Uma teia nos rodeia
Sussurrares nos encantam
O belo da poesia está no arrepio;
É o avisar do sentir

Não olhe para a poesia
Apenas sinta
É outra dimensão
No fundo de nós mesmos
Ela habita

Quando o arrepio nos fita
Está a poesia a submergir
Vem progressiva
Vai meditativa

Fica-se com este interrogar:
Poesia é luz que arrepia?
Poesia é arrepio iluminado?

Quando a poesia se afasta
Fica a vontade de ser poeta
Para decifrar o verbo amar

BREGUICE



Pra ver você bem vestida
Ando igual a um molambo
Pra poder lhe dar boa vida
Onde você pisa eu lambo

Quando você me beija o ego
Dou nó em fumaça
Só assim eu sossego
E sinto-me sua caça

Para ter você o dia inteiro
Vivo pra você com maior zelo
Sou ferreiro e viro carpinteiro
Esmurro faca e enxugo gelo

Para ter você a noite inteira
Topo tudo, qualquer negócio
Carrego água na peneira
Nem ligo se no amor tenho sócio

8.08.2005

POÉTICA




Coceira gostosa nos galhos seculares
A se esfregarem rangendo novos paladares.

Os pássaros ensaiando notas musicais
Na sinfonia universal do despertar em ais.

A velha poesia em morosa demolição natural
Como antigos casarões alimentados pelo fatal.

As idas e vindas famosas, infatigáveis,
Das formigas miúdas e abelhas afáveis.

A adoção do casal branco, em matrimônio,
De um negrinho, infinitizando de amor o patrimônio.

Um beijo estala no ar agasalhando a distância
A mulher madura volta a ter desejos de infância.

Um relâmpago estremece o interior do céu
E acalma das flores a abandonada alma-véu.

SINCERAMENTE



Enquanto houver o último instante
Haveremos de ser fortes e bons
Deixe que o adeus em nós cante
A canção de desencontrados tons.

Se em nós a ausência for imperiosa,
Vamos fazer de nossa falta: festa.
O conformismo é uma forma formosa
De resolver um mal que nos molesta.

Não podemos, jamais, deixar feio
Nossos encontros, palavras e gestos
Eles que compuseram nosso esteio,
Suportaram difíceis sonhos imodestos.

Tudo aquilo que marcou nossa vivência,
Nossas próprias palavras, nosso mutismo,
Um dia fará sorrir a esperada ausência,
Lembraremos-nos sob o clarão do otimismo.

Se nosso desencontro for mesmo preciso,
Onde você estiver não se permita escura.
Ao lembrar de mim, dê um claro sorriso,
Eu a lembrarei sempre com muita ternura.

PASSAGEIRO DA POESIA



Fui levado pela poesia
Por beleza que se irradia
Nas emoções de éter quente
É ter na mente
Eternamente
Éter na mente
Eterna mente
E terna mente
Embriaguei-me profundamente
Percebi; eram duas horas da madrugada.
Fui dormir carnavalesco em purpurina
Dormi quase sarado fatalmente
Pensei que fosse morrer de poesia
Eu que sempre dela precisei para viver
Neste transe consegui ter-me
Fui catarse que me redescobria

Para abandonar o sentir que eu estava afim
Foi preciso que eu fosse embora de mim

Há de ter sido um bom sonho
Para uma alma que se sabe sã
Veio o receio de morrer no que componho
E nunca mais perceber o amanhã

Agradeço a este porre.
Agora de mim escorre
O dom-vinho sonho da poesia
E a vida segue e se recria

ÉPICOS POEMAS



Eu me abandono para lhe fazer companhia
e só assim, consigo encontrar-me
e perder-me
e encontrar-me,
e perder-me
e encontrar-me.

A vida é uma eterna perda e busca
- perdemos o degrau anterior e ganhamos o vindouro -

E você, poesia,
é o caminho mais bonito,
para quem tem fé.

Você está em tudo,
é o caminhar mais suave,
mais etéreo
mais iluminado
que leva à Deus.

Somos épicos poemas Dele.

HOMENAGEM AO POETINHA



Vontade de mergulhar no mar
Desfazer-me rindo em borbulhas
E renascer champanhe gelada
Nos lábios quentes de uma virgem

Quando folhas verdes de coqueiros
Balançam minha vã inquietude
E regam à néctares gigantescos
Meu calor de aflição impaciente

Quando chove, meu peito emudece
Esfria o sentir. Ambiente escuro.
Aqueço, esqueço com ilusão mesmo
Os frios pingos que reboam dor

Análise retrospectiva. Juventude.
Homenagem à Vinícius de Morais:
Que eu não me exagere demais
E morra por amar mais do que pude!

OUTRA VISÃO



Jardins Enfeitam As Flores
Abelhas Enfeitam O Mel
Mãos Enfeitam Anéis
Lapelas Enfeitam Broches
Lábios Enfeitam Beijos
Pés Enfeitam Sandálias
Sucos Enfeitam Copos
Corpos Enfeitam Carinhos
Paisagens Enfeitam Olhos
Melodias Enfeitam Pianos
Corações Enfeitam O Amor
Lodos Enfeitam Os Lírios
Enfeito Você Que Me Enfeita

VIDA VIDA VIDA



Na noite escura e fresca
Respirando sob frondes
Sinto o paladar do seu ar;
É o seu hálito adocicado.
Vejo uma estrela faiscante
Como um mágico espelho,
Este seu rostinho meu!
Invade-me uma intenção antiga
De lhe ver e lhe amar.
E nada mais é que a vontade
Incessante de ser bom,
Eternamente.
Sinto e pressinto necessidade
De ser bom para você.
Recolher de minha solidão
A sua solução em tonéis de século.
Amparar com meus abraços
Suas angústias e indecisões,
Ouvir atento suas estórias,
Contar-lhe alegrias somente,
Encetar viagens utópicas de brincadeirinha.
Acertar meus passos aos seus,
Os seus aos meus;
Seguirmos um só caminhar.
Levar você em carruagem rosa-algodão,
Fazê-la voar e cair em um lago transbordante
De champanhe e eu.
Dar uma grande festa para a única convidada.
Representar no palco improvisado
Um palhaço muito, muito engraçado,
Quero ver você rir tanto, em demasia,
Até perder o fôlego e desmaiar,
Eu, com um beijo bom,
Reporei normalidade em sua vida,
Restituirei vida à minha vida.

8.06.2005

BROCHE VERDADEIRO



Toda vaidosa
E não prosa
Mais linda
Ainda
Está ela
Tendo repouso leve
Sob borboleta bela
De existência breve.